ESCOLAS DO CRIME
ORGANIZADO
As
penitenciárias estaduais — e algumas federais —, normalmente superlotadas, têm
se tornado verdadeiras “escolas” do crime: detentos de baixa periculosidade, os
chamados “ladrões de galinha”, convivem com presos de alta periculosidade. Essa
comunicação favorece a formação de facções: ao arregimentar, ensinar, treinar e
aliciar detentos primários, os líderes preparam-nos para ingressar no crime organizado.
O objetivo dessas facções é ousado: montar um “exército
do mal”, com poder que em muitos casos se mostra superior às forças
policiais.
Dados
recentes revelam que facções e milícias já alcançam ao menos 28,5 milhões de brasileiros, o equivalente
a cerca de 19% da população do
país. CNN Brasil+1
Adicionalmente, segundo a Iniciativa Global contra o Crime Organizado
Transnacional (GI-TOC), o Brasil subiu para a 14ª
posição entre os países com maior presença de crime organizado, o
que indica que essas redes cresceram e que o Estado está com menor capacidade
de reação. InfoMoney
ORIGEM DAS
GRANDES FACÇÕES
Embora
existam dezenas de organizações criminosas pelo Brasil, destacamos duas das
mais poderosas:
- Primeiro Comando da Capital (PCC): surgida na década de 1990, no Presídio de Segurança
Máxima em Taubaté (SP). Hoje, além de um “exército” vasto, possui inúmeras
ramificações e filiações com facções menores, atuando em todo o território
nacional — e com ramificações no exterior.
- Comando Vermelho (CV):
originada nos anos 1970, no Presídio Cândido Mendes em Angra dos Reis
(RJ). Da mesma forma que o PCC, possui milhares de membros, filiações e
atua tanto no Brasil como além-fronteiras.
Adicionalmente,
estimativas recentes apontam que, em território nacional, existem 72 facções criminosas vinculadas ao narcotráfico
registradas pela Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN) e
parceiros. Esfera Brasil+1
Ou seja: o PCC e o CV são apenas dois de um vasto conjunto de organizações que
compõem essa teia criminal.
TERRITORIALIZAÇÃO
O conceito
de territorialização refere-se ao
controle exercido por uma facção sobre determinada área — favelas, bairros
adjacentes, ruas e avenidas.
Onde reina a governança do crime, os moradores — famílias de trabalhadores —
acabam pagando “impostos” ao Estado e
ao comando local. Dependem também dos serviços informais oferecidos pelo crime
para bens básicos: moradia, gás, energia elétrica, “proteção”, etc. A máxima
popular ilustra bem: “Tá tudo dominado!”
Por
exemplo, no Rio de Janeiro, o Comando Vermelho domina o Complexo do Alemão, o
Complexo da Penha e já expandiu para bairros vizinhos. O pior para os moradores
é quando há guerras entre facções,
disputando território ou pontos de venda de drogas — cenário que gera pânico e
insegurança generalizada.
Essa
territorialização não tem apenas impacto local: avalia-se que essa penetração
de facções nas comunidades fira a própria soberania do Estado, dado que
instituições públicas deixam de controlar plenamente determinados espaços.
COMO FUNCIONA
UMA GRANDE FACÇÃO
Uma facção
madura opera como uma empresa multinacional
do crime — com hierarquia, setores definidos e regras próprias.
1º Escalão – “Grandes Tubarões”
Líderes que têm a primeira e a última palavra. Muitos ocultam sua identidade e
residem em bairros nobres, em condomínios de luxo — camuflados como “cidadãos
comuns”.
2º Escalão – Chefes e Subchefes
Locais nas favelas, que funcionam como quartéis-generais do crime. Repassam as
ordens dos tubarões aos “soldados” e infiltram-se na economia formal e, por
vezes, na política.
3º Escalão – Engenheiros do Crime
Inclui hackers (invadem sistemas, coletam dados, planejam o modus operandi), armeiros (estoque de
armas, contrabando de peças, produção de metralhadoras/fuzis “caseiros”) e o
“Pelotão de Elite” (combatentes preparados com explosivos, armas de grosso
calibre, responsáveis por assaltos a bancos, caixas eletrônicos, carros-forte).
Os advogados do crime também entram aqui: negociam penas, pagam propinas para
agentes de segurança, facilitam fugas ou criam empresas fictícias para lavagem
de dinheiro.
4º Escalão – Base Operacional
Composta majoritariamente por adolescentes e jovens cooptados. Responsáveis
pelo varejo de drogas, roubos de celular, motos e automóveis.
Essa
divisão de funções mostra o quanto essas organizações são sofisticadas e
integradas — não meros “bandidos soltos”, mas sistemas estruturados.
UM NEGÓCIO
BILIONÁRIO
Os lucros
gerados por essas redes são impressionantes. Em estudo recente, estimou-se que
o faturamento bruto da venda de cocaína que passa pelo Brasil e vai para a
Europa seria da ordem de R$ 335,1 bilhões
por ano. Esfera Brasil
Importante lembrar: o narcotráfico representa apenas cerca de 20% do faturamento total dessas
organizações — há outros ramos igualmente lucrativos.
Um exemplo: o mercado ilegal de combustíveis, o chamado “carbono oculto”, que
movimenta grandes montantes. Além disso, contrabando, mineração ilegal, armas,
falsificação, lavagem de dinheiro — todos contribuem para essa engrenagem
econômica.
Esses
fatos mostram que o crime organizado deixou de ser apenas “tráfico de drogas” e
se tornou uma economia paralela,
com ramificações financeiras, pressões políticas e socioculturais.
E A POLÍCIA?
Por
muitos anos, o sistema de segurança nacional ficou em alerta mínimo, permitindo que as facções evoluíssem e se
transformassem em verdadeiras máfias: armadas, organizadas, eficientes. A
infiltração nos presídios, a superlotação e a falta de coordenação foram
terreno fértil para o crescimento.
Além
disso, dados mostram que a população sente cada vez mais a presença das
organizações criminosas em seus bairros: pesquisa aponta que 16% das pessoas já
presenciaram uma abordagem truculenta da polícia militar. CNN Brasil
Ou seja: o problema não é só a criminalidade, é também a forma como o Estado
responde — ou não responde.
O DESPERTAR DA
SEGURANÇA NACIONAL
No dia 28 de outubro de 2025, no Rio de Janeiro,
ocorreu uma grande operação de contenção, coordenada pelo governador Cláudio
Castro, com as polícias Civil e Militar do estado. O confronto se transformou
numa guerrilha urbana entre as forças de segurança e o Comando Vermelho nas
favelas da Penha e do Alemão: ruas bloqueadas, barricadas, situação de caos.
O saldo: 121 mortos (incluindo 4
policiais) e cerca de 113 prisões.
O episódio ganhou manchetes internacionais — e escancarou a fragilidade do sistema
de segurança brasileiro.
O GOVERNO
FEDERAL RESOLVEU AGIR
Logo em
seguida, no dia 31 de outubro, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro Ricardo Lewandowski se
reuniram e criaram o projeto de lei “ANTIFACÇÃO”, encaminhado ao Congresso
Nacional.
O projeto propõe:
- Aumento
de pena para crimes cometidos por facções;
- Aquisição
de equipamentos modernos para as forças policiais;
- Infiltração
de agentes públicos nas facções e empresas de fachada;
- Criação
de um Banco Nacional de Dados para rastrear atividades criminosas;
- Integração
das forças Federal, Estadual e Municipal;
- Monitoramento
de conversas entre presos e advogados.
Além dos
aspectos punitivos, esse projeto sinaliza que a abordagem do Estado passa a
enxergar o crime organizado como problema estrutural — não apenas policial, mas
social, econômico e institucional.
Também
relevante: pesquisa recente mostra que 73%
dos brasileiros acreditam que facções devem ser consideradas
organizações terroristas. CNN Brasil
Isso evidencia a percepção pública da gravidade do fenômeno.
CONCLUSÃO
Na minha
modesta opinião, enquanto não se asfixia-financeiramente
as facções — bloqueando contas de “laranjas”, confiscando mansões, carros de
luxo, eliminando a territorialização do bem público — o problema continuará.
Mas não sejamos tão pessimistas: o projeto Antifacção é um passo importante e
decisivo. Se for aprovado e efetivamente aplicado, poderemos — talvez — voltar a cantar:
“Eu só
quero é ser feliz,
Andar tranquilamente pelas ruas do meu país...”
Boa
leitura — obrigado por ler.
Professor Marcos Moraes